FERNANDO LUIS VIEIRA FERREIRA

sábado, 1 de janeiro de 2011

SOARES DE MEIRELLES - Sabará - Valença - Rio de Janeiro - Recife

DESCENDÊNCIA
Pais de Luís Soares de Meirelles
Avós de João Baptista Soares de Meirelles
Bisavós de Thereza de Jesus Maria Soares de Meirelles
Terceiros Avos de Elisa Augusta Gomes do Val
Quartos Avós de Fernando Luís Vieira Ferreira
Quintos Avós de Joaquim Vieira Ferreira Neto
Sextos Avós de José Bento Vieira Ferreira
Sétimos Avos de Anamaria Nunes Vieira Ferreira

O 1º SOARES DE MEIRELLES
O primeiro Soares Meirelles que nos aparece na Revista Arquivo Mineiro, à pág. 729 e outras do volume 1º é Luiz Soares de Meireles, tratando-se da mercê que lhe cabia pelo triste serviço de haver efetuado a prisão de Felipe dos Santos, implicado numa sedição de Vila Rica e enforcado e esquartejado, como se vê pela carta do Conde de Assumar ao ouvidor do Rio das Mortes, a quem consulta se podia fazer o mesmo a Tomé Afonso, “o mais perverso de quantos tomaram parte na sedição”, mas provara ter ordens menores”
(Revista do Arquivo Mineiro, Volume 1º, p. 658)

Cito-lhe o nome sem grande simpatia, somente para mostrar a quanto remonta a existência de Soares de Meireles no rio das Velhas, tendo a carta do conde à data de 8 de agosto de 1720. Tomara em todo o caso o partido da legalidade, dessa legalidade às vezes tão cruel em seu triunfo, quando em si mesma não é bárbara.

Cachoeira e Porongaba
Fernando Luis Vieira Ferreira

1. LUÍS SOARES DE MEIRELLES. Nascido por volta de 1700. Cavaleiro da Imperial Ordem de Cristo com tença de trinta mil réis anuais.

Luis Soares de Meirelles serviu no posto de Vereador por duas ocasiões, em 1729 e 1730. Em uma procuração outorgada pelo Sargento Mor João dos Reis Coutinho, em 1721, Luis Soares de Meirelles foi registrado como Tenente, permanecendo com a mesma patente até pelo menos 1729. Em 1720, por ocasião do auxílio prestado ao Conde de Assumar, ao prender, mesmo sem ordem expressa do governador, Felipe dos Santos que, com 40 negros armados “forçou moradores a virem espalhados no Campo da Cachoeira”, Luis Soares de Meirelles foi agraciado com o hábito da Ordem de Cristo, um importante título que conferia prestígio social.

O Perfil Social dos Oficiais Camarários e o
Padrão de Ocupação dos Postos da Câmara, Vila Rica.
Fernanda Fioravante

Até hoje é mal lembrado pela infeliz missão de prender Felipe dos Santos:

A Prisão de Felipe dos Santos
Em 1720, a pressão do governo português sobre os senhores das minas motivou uma série de revoltas. Para evitar a evasão do imposto (o quinto do ouro), o governador D. Pedro de Almeida, conde Assumar, decidiu criar as casas de fundição e assim proibir a circulação do ouro em pó.
Como não podia deixar de ser, em Vila Rica estourou a maior das rebeliões, tendo à frente Felipe dos Santos Freire. Felipe dos Santos estava em Cachoeira do Campo a pregar a revolta e arrebanhar simpatizantes para sua causa quando foi preso pelo capitão Luiz Soares de Meirelles.

Segundo a tradição, o ato da prisão de Felipe dos Santos ocorreu na praça que hoje tem seu nome, defronte à igreja-matriz.

Ainda não conhecemos a vida do Sargento Mor Luis Soares de Meirelles, dele restando apenas o fato de ter passado à História como “o homem que prendeu Felipe dos Santos”, despertando assim a ira dos historiadores.

Para Waldemar de Almeida Barbosa, Soares de Meirelles prendeu Felipe dos Santos porque quis, sem qualquer razão:

“Esse Luís Soares de Meireles, homem do povo, que não exercia qualquer cargo, nem era militar, prendeu Filipe dos Santos e levou-o para Vila Rica...”.

História de Minas‎
Waldemar de Almeida Barbosa – 1979

Engana-se o Historiador porque, à época da prisão de Felipe dos Santos, Soares de Meirelles era Tenente. E, como tal, recebia ordens, não podendo ignorar que Felipe dos Santos era inimigo da coroa, procurado por seus comícios em defesa do povo oprimido pela cobrança exorbitante dos quintos reais. Portanto, se o prendeu, Luis Soares de Meirelles cumpriu o seu dever, lastimável dever, é bom que se diga.

Quanto a ser “homem do povo, que não exercia qualquer cargo, nem era militar”, nos parece, no mínimo, exagerado. Quando da prisão de Felipe dos Santos era Chefe de Dragões.

Se levarmos em conta que os padrinhos eram sempre pessoas de mérito, poder, ou de fortuna, não podemos esquecer que Soares de Meirelles apadrinhou o casamento do Coronel Antonio Pimenta da Costa, em 30 de Abril de 1719, em Cachoeira do Campo: “Venerando patriarca de quem descendem seguidas gerações de brasileiros, muitos deles dos mais ilustres”, nas palavras do Cônego Trindade. Em 1719, Luís Soares de Meirelles ainda não havia recebido a Ordem de Cristo.

Em 1730 era do Conselho da Câmara Municipal de Vila Rica.
Eleito Vereador da 19ª Câmara de Ouro Preto, em 1729, e da 20ª Câmara, em 1730.

Morador no Arraial do Paraopeba teve mercê de uma sesmaria de meia légua em quadra junto ao rio Paraopeba.

Casado por volta de 1740 com DESCONHECIDA. Foram Pais de:

2. DR. LUÍS SOARES DE MEIRELLES. Médico. Nascido por volta de 1740, em Cachoeira do Campo, Nossa Senhora de Nazaré, segundo anotação feita a lápis na Certidão de Casamento de seu filho. Vivia em Sabará.
Era médico segundo a biografia de seu neto, Joaquim Cândido Soares de Meirelles, elaborada pela Academia Nacional de Medicina.

Casado, por volta de 1760, com ANA MARIA CALDEIRA, nascida por volta de 1740, em Congonhas de Sabará. Filha de Felisberto Caldeira Brant e de Dona Branca de Almeida Lara (na dúvida).

Filho legítimo de Luiz Soares de Meirelles, nat. da freg. da Cachoeira do Campo, e Ana Maria Caldeira, nat. e bat. Na freg. De N. S. do Pilar de Congonhas de Sabará, bisp. de Mariana.
Manoel (22-1-1798). João (14-7-1799). Ana (26.1.1804). Francisco (16.6.1805). Ana (28.10.1806) Cândida (24.9.1810)

Revista Genealógica Brasileira
Volume 5-6 – Página 66

Acreditamos que Dona Ana Maria Caldeira fosse filha de Felisberto Caldeira Brant e de Dona Branca de Almeida Lara por coincidência de nome, época e lugar:

Dona Ana Maria Caldeira era natural de Congonhas de Sabará, lugar de morada de Felisberto Caldeira Brant.

Felisberto Caldeira Brant e Dona Branca de Almeida Lara foram pais de uma filha, a sexta, com o mesmo nome de quem nada se sabe, exceto que nasceu na mesma época que a nossa ancestral.

A descendência de Ana Maria Caldeira - os Soares de Meirelles - era negra como eram os parentes do Marquês de Barbacena.

O Padre Ildefonso de Oliveira Caldeira Brant foi Testemunha de Casamento de João Ribeiro do Val, tio de Matheus Gomes do Val, casado Dona Thereza de Jesus Maria Soares de Meirelles. Ildefonso de Oliveira Caldeira Brant, Visconde de Gericinó, foi padrinho de Ildefonso Ribeiro do Val, filho do mesmo João Ribeiro do Val.

Foram Pais de:

2.1 João Baptista Soares de Meirelles, que segue.

2.2 Porcina Maria de São José.

Filha legítima de Luiz Soares de Meirelles, nat. da freg. da Cachoeira do Campo, e Ana Maria Caldeira, nat. e bat. Na freg. De N. S. do Pilar de Congonhas de Sabará, bisp. de Mariana. Manoel (22-1-1798). João (14-7-1799). Ana (26.1.1804). Francisco (16.6.1805). Ana (28.10.1806) Cândida (24.9.1810)

Revista Genealógica Brasileira
Volume 5-6 – Página 66

Natural e batizada na Freguesia de Nossa Senhora da Boa Viagem de Curral Del Rei, bispado de Mariana. Casada com Manoel da Silveira Machado, natural e batizado na Freguesia de N. Sra. Da Piedade da Ilha do Pico, filho legítimo de Antonio da Silveira Machado e Domingas da Conceição. Com Geração.

2.3 Manoel Soares de Meirelles. Médico Cirurgião em Sabará. Nascido por volta de 1760. Era clínico em Santa Luzia de Sabará. Era licenciado, ou físico, como se falava no Brasil Colônia. Pioneiro no uso da Talha. Recebeu Carta de Sesmaria em Cantagalo.

Também o licenciado Manoel Soares de Meirelles, clínico em Santa Luzia de Sabará, pai do grande Joaquim Cândido, requereu uma sesmaria em Cantagalo, constituindo o professor, seu irmão, procurador bastante no Rio de Janeiro, por um instrumento passado no tabelião Sebastião da Silva, na real vila de N.S. da Conceição de Sabará, aos 3 dias do mês de Outubro de 1804. Consta esta sesmaria do volume XXXVI das Publicações do Arquivo Nacional, p. 268.

Cachoeira e Porongaba
Fernando Luis Vieira Ferreira

Casado em 1795, com Dona Ana Joaquina de São José. Com Geração.

Destaques na Descendência

Joaquim Cândido Soares de Meirelles
Médico de Dom Pedro I e de Dom Pedro II. Médico da Imperial Câmara. Fidalgo Cavaleiro. Teve mercê de Carta de Brasão. Cavaleiro da Imperial Ordem de São Bento de Aviz. Comendador da Imperial Ordem da Rosa. Cavaleiro da Ordem do Cruzeiro do Sul. Fundador da Academia Brasileira de Medicina, Patrono da Cadeira n° 1. Deputado na Assembléia Geral (1845-1848) por Minas Gerais. Almirante Graduado. Patrono do Serviço de Saúde da Marinha. Nascido em 5 de Novembro de 1797, à margem do rio das Velhas, em Sabará. Falecido no Rio de Janeiro em 13 de Julho de 1868, aos 71 anos.

Saturnino Soares de Meirelles
Médico Homeopata. Conselheiro do Império. Médico do Conselho de Sua Majestade. Nascido em 6 de Agosto de 1828, no Rio de Janeiro (Sacramento, Livro 11, Fls. 31v), e falecido em 9 de Dezembro de 1910, no Rio de Janeiro.

Pedro Rodrigues Soares de Meirelles
Republicano Histórico. Advogado. Nascido em 19 de Setembro de 1849, no Rio de Janeiro. Falecido em 8 de Maio de 1882, no Rio de Janeiro. Foi um dos cinco primeiros redatores do jornal A República, fundado em 3 de Dezembro de 1870, ao lado de Quintino Bocaiúva, Aristides Lobo, Flávio Farnese, Miguel Vieira Ferreira e Luiz Vieira Ferreira. Signatário do Manifesto Republicano. Desde os tempos acadêmicos, ainda estudante fundou e redigiu o jornal hebdomádario “A Vanguarda”, São Paulo, 1867, sob o pseudônimo Diógenes.

Alberto Soares de Meirelles
Médico Homeopata. General de Brigada. Nascido em 21 de Setembro de 1904. Falecido, aos 85 anos, em 8 de Julho de 1990. Membro da Academia Nacional de Medicina. Responsável pela inclusão da Homeopatia no rol de especialidades médicas. Professor Catedrático de Clínica Homeopática. Professor Emérito, Conselheiro Perpétuo e fundador do Conselho Universitário da Uni-Rio. Professor Titular de Homeopatia do Instituto de Pós Graduação Médica Carlos Chagas. Criador do Departamento de Homeopatia na Fefieg.
2.4 José Eustáquio Soares de Meirelles. Na dúvida. Citado em Tese, como listado no cadastro de clientes de Domingos Alves da Silva Porto, ao lado do Padre Mestre e Matheus Gomes do Val. (O Império do Retrato: Família, riqueza e representação social no Brasil Oitocentista - Mariana de Aguiar Ferreira Mauze)

2.5 Firmino Soares de Meirelles. Artista Plástico. Na dúvida. Participou da Exposição Universal em Paris, em 1867.

L'empire du Brésil à l'Exposition universelle de 1867 - Página 139
de Brazil com. na expos. univ. de Paris - 1867
944 Firmino Soares de Meirelles. Bougies en cire, 1$500 la livre. 945 Mo de
Oliveira Barboza. Vernis pour négatifs (photographies.) 946 Joaquim José Marques..

2.6 Felícia de Meirelles. Na dúvida. Casada com o Tenente João da Costa Ribera. Com Geração. (Livro de Casamentos 1758-1801 de Sabará, p. 225v. - Pesquisa de Cibele Braga)

2.7 ... Outras filhas com numerosa descendência segundo carta do Bispo Dom Antonio Rodrigues de Aguiar referendando a conduta do Padre Mestre:

3. JOÃO BAPTISTA SOARES DE MEIRELLES. Nascido em 1766, em Curral Del Rei, atual Belo Horizonte. Falecido, em 22 de Setembro de 1849, em Valença, aos 84 anos, de uma queda de cavalo.

Latinista Notável
Joaquim Cândido Soares de Meirelles: Feitos com proveito os estudos menores no mesmo lugar onde nascera, parte o mesmo, ainda em tenros anos, para o Rio de Janeiro, a fim de cursar humanidades no Seminário de São José, sob a inspecção de seu tio, o notável latinista padre João Baptista Soares de Meirelles.

Olympio da Fonseca
Anais do 2º Congresso de História Nacional

(...) Attestamos que o Pretendente era tido e havido pelo mais hábil Mestre da sua Arte que se conhecia n´esta Cidade não só pelos seus conhecimentos especulativos, mas pela sua conducta moral, e notável aptidão para ensinar a mocidade, como se mostrava pelo grande numero e aproveitamento de seus muitos e hábeis Discípulos. Todas estas qualidades Havemos Nós igualmente prezenciado à mais de seis annos, conhecendo por experiência própria seus costumes irreprehensiveis, o seu saber, o zelo com que ensina não só Alumnos do Nosso Seminário de S. Jozé, mas a maior parte da mocidade estudiosa, que freqüenta a sua Aula, em que temos o desejo e satisfação, que queira, perpetuamente conservar-se. Dada na Residência Episcopal do Rio de Janeiro em vinte e hum de Maio de mil oitocentos e quatorze debaixo de Nosso Signal e Sello de Nossas Armas. O Bispo Capellão Mór.”

Dom Jozé Caetano da Silva Coutinho,
Bispo do Rio de Janeiro, Capelão Mor do Príncipe Regente

Soares de Meirelles fez os Cursos Preparatórios no Seminário São José, tendo sido aluno do seu tio, Padre Mestre João Baptista Soares de Meirelles, Latinista de prestígio.

Sacramento Blake
Seu pai era médico e médicos foram seu irmão Manoel, clínico em Santa Luzia de Sabará, Joaquim Cândido, o fundador da Academia de Medicina, filho de Manoel, Saturnino, filho de Joaquim Cândido, e Theodulo, filho de Saturnino. Com o Dr. Alberto Meireles, diretor do Hospital Hahnemanniano, filho de Theodulo, vai a seis a série de médicos em contínua descendência.

Cachoeira e Porongaba
Fernando Luis Vieira Ferreira

... da educação de Porcino, de ordem de Sua Majestade, João Batista Soares de Meireles (nascido em 1766), substituto das Cadeiras de Língua Latina da Corte, e professor de Gramática Latina do Seminário São José. Homem bondoso e amigo do Comandante Malha, manteve Porcino em sua própria casa, servindo como pai e educador...
No inventário dos bens de Francisco Duarte Malha,

Mensário, Volume 12‎ - Página 24 – 1981.

Filho do Dr. Luis Soares de Meirelles e Ana Maria Caldeira. Neto paterno do Sargento Mor Luis Soares de Meirelles. Neto materno de Felisberto Caldeira Brant e de Dona Branca de Almeida Lara (Na dúvida).

Bisneto materno de Ambrósio Caldeira Brant e de Dona Josepha de Souza e Silva. De José Pires de Almeida e de Dona Maria de Arruda.

Agraciado com a Imperial Ordem de Cristo por decreto, assinado pelo Ministro do Império Cândido José de Araújo Viana, de 18 de Julho de 1841.

Por decreto de 18 de Julho de 1841 foi o Padre Mestre agraciado com o hábito de Cristo. Possuo a cópia fotostática dêsse decreto, que me foi remetida com um amável cartão por Vilhena de Moraes, ilustre diretor do Arquivo Público Nacional. É notável nesse documento o tamanho da firma de Sua Majestade, comparado com as letras do texto e da assinatura do ministro do Império, Cândido José de Araújo Viana. Consiste num grande P, cuja parte superior forma o pé de um dois em algarismo arábico.

Tenho o retrato do Padre Mestre com a vênera no peito da batina, tirado na Fotografia Alemã de Alberto Henschel & Cia., “fotográfos da casa imperial”, estabelecida na Côrte, à rua dos Ourives, 40, em Pernambuco, no largo da Matriz de Santo Antônio, e na Baía, na rua Direita da Piedade. Tinha mais de setenta e quatro anos quando lhe foi conferido o hábito de Cristo e ainda viveu alguns anos.

As belas páginas que seu bisneto, Fernando Luis Vieira Ferreira, escreveu sobre sua vida estão dispersas por todo o trabalho.

O Padre Mestre, notável latinista, não se limitou à leitura do Evangelho, do Flos Sanctorum, do Míssale romanum; versou os autores profanos. Penso que Ovídio era o seu poeta predileto, porque seu filho, meu bom tio José Meirelles, nos últimos anos em que vivemos na Cachoeira, recitava de vez em quando versos dêsse infeliz poeta desterrado no Ponto Euxino por Augusto, Una tamen spes est... Voltou, porém, na última fase de sua vida ao latim das letras sacras, que aprendera antes de receber ordens menores em Mariana, para falar com a Divindade a língua que ensinara aos homens no seu longo e notável magistério.

Exerceu o sacerdócio com a mesma elevação. Dizem que se transfigurava no ofício divino e que era visível a sua emoção quando pronunciava o Dominus vobiscum. Com fé tão acendrada, não oficiava sem alma, mecanicamente, como quem despacha um negócio por obrigação, desejando no íntimo chegar ao termo, Ite, missa est; porque não era a missa para ele um ofício mecânico, nem maquinal, mas medicina de almas, divino ofício. Mestre ou padre, deveria ser tomado esse Padre Mestre como um paradigma por curas de almas e professores, estimulados com o seu exemplo na prática das mesmas virtudes. Surssum corda.

Morreu com oitenta e quatro ou oitenta e cinco anos, no dia 22 de Setembro de 1849, quase no meio do século, em conseqüência de uma queda da montaria em que fôra administrar a um doente os últimos sacramentos. Se vivesse ainda, que pensaria dos espíritos primários em que tudo esperam da força material, confiados mais, como os adeptos do Islam, no poder persuasivo da cimitarra, para a conversão das almas, do que no dom apostólico das línguas? Lembrar-se-ia, como cristão, da parêmia divina Qui gladio ferit, gladio perit, e como pessoa instruída pela experiência histórica, da brutalidade cruel e injustiça irrefreável das reações, que no dia da vingança não imolam só os semeadores de ódio, mas de envolta com eles tantos inocentes? Dies ille, dies irae...

Formou-se no Seminário de Mariana, onde recebeu Ordens Menores.

Na petição que dirigiu ao príncipe regente disse também João Baptista que exercia o magistério desde a idade de vinte e dois anos. Tendo nascido em 1766 ou 67, começou, portanto, a lecionar por volta de 1788 ou 89, depois de seus estudos no Seminário de Mariana, onde recebeu ordens menores.

Sentiu, pois, na mocidade a influência espiritual de um meio tão culto como o da capitania mineira, onde florescia naquela tempo a literatura de uma plêiade brilhante, principalmente em Vila Rica, por onde passou tantas vezes bem perto de Gonzaga, de Cláudio Manoel da Costa... Ouviu em Mariana, provavelmente, a palavra persuasiva do eloqüente cônego Luiz Vieira da Silva. Não sei com que sentimentos e opiniões teve notícias da devassa na Inconfidência e do seu triste epílogo com a execução da sentença da alçada que condenou Tiradentes.

Foi nessa época, mais ou menos, que começaram os dez anos durante os quais, como professor de latim e humanidades, exerceu o magistério em Minas. Meu tio José Meirelles, quando em 1891, viajando para Sabará, pernoitamos em Itabira do Campo, disse-me que seu pai fora professor nessa cidade. Já se achava, porém, no Rio de Janeiro no começo do século XIX, sendo logo convidado pelo bispo D. José Joaquim Justiniano Mascarenhas Castelo Branco para ocupar a cadeira de latim no seminário de São Joaquim, do qual foi depois transferido para o de São José.

Pelo alvará de 4 de Maio de 1822, assinado por D. Pedro, ainda Príncipe Regente, João Baptista Soares Meirelles foi efetivado na Cadeira de Latim.

João Baptista Soares de Meirelles, o Padre Mestre, padre só se tornou depois que morreu sua mulher, D. Joanna Leonísia, tendo sido mestre, em Minas e no Rio de Janeiro, a maior parte de sua vida.

O Professor – Em maio de 1814, João Baptista Soares de Meirelles já tinha quase quarenta e oito anos de idade, como declara numa petição que fez ao príncipe regente que foi depois D. João VI. Nasceu, portanto, em 1766 ou 1767, em Curral del Rei, povoação que se transformaria depois numa grande capital, obra de Afonso Augusto Moreira Penna: Belo Horizonte.
Em 1814 era na Corte, professor régio de gramática latina e teve, para documentar uma petição a que já me referi, os honrosos atestados que transcrevo ipsis litteris, para lhes conservar a patina:

Dom Jozé Caetano da Silva Coutinho, por Mercê de Deus e da Santa Sé Apostólica, Bispo do Rio de Janeiro, Capelão Mor do Príncipe Regente Nosso Senhor, e do seu Conselho, etc.

"Fazemos saber, que João Baptista Soares de Meirelles Nos representou, que para certo Requerimento necessitava de huma Attestação Nossa sobre a sua conducta e serviços na qualidade de Professor de Grammatica Latina; em cuja conformidade Attestamos que o Pretendente era tido e havido pelo mais habil Mestre da sua Arte que se conhecia n´esta Cidade não só pelos seus conhecimentos especulativos, mas pela sua conducta moral, e notavel aptidão para ensinar a mocidade, como se mostrava pelo grande numero e aproveitamento de seus muitos e habeis Discipulos. Todas estas qualidades Havemos Nós igualmente prezenciado à mais de seis annos, conhecendo por experiencia propria seus costumes irreprehensiveis, o seu saber, o zelo com que ensina não só Alumnos do Nosso Seminário de S. Jozé, mas a maior parte da mocidade estudiosa, que frequenta a sua Aula, em que temos o desejo e satisfação, que queira, perpetuamente conservar-se. Dada na Residência Episcopal do Rio de Janeiro em vinte e hum de Maio de mil oitocentos e quatorze debaixo de Nosso Signal e Sello de Nossas Armas. O Bispo Capellão Mór.”

Dom Antonio Rodrigues de Aguiar, Bispo eleito in partibus Prelado de Goiaz etc. Fazemos saber, que o Substituto Regio da Cadeira de Lingua Latina desta Côrte João Baptista Soares de Meirelles, nos reprezentou, que necessitava de hum Attestado nosso sobre seus serviços no interesse da Mócidade e sobre a sua conducta; portanto attestamos que o conhecemos a mais de quatorze annos ocuppado nos Seminários desta Corte, onde pelo zelo e conhecimentos relativos a sua profissão se tem distinguido entre todos os Professores, verificando o conceito que corria de que em Minas se havia assinalado na mesma profissão por espaço de dez annos que ensinou com muita utilidade de seus discipulos. Quanto a conducta sabemos por experiencia que hé regularíssima e que se faz m.to mais recommendavel pela caridade, com que mantem huma numerosa família de Irmãs e Sobrinhos, com os quais despende quaze tudo o que lhe rendem os seus trabalhos. Dada nesta Cid.e do Rio de Janeiro debaixo de Nosso Signal e Sello de Nossas Armas em 27 de Maio de 1814. B.o eleito in partibus Prelado de Goiaz.

Fr. Antonio de Santa Ursula Rodovalho da Ordem de S. Francisco attesto que João Baptista Soares de Meirelles Professor de Grammatica Latina no Seminario Episcopal de S. Jozé desta Cidade, Substituto das Cadeiras Regias, tendo vindo a esta Cidade á muitos annos e sendo logo chamado pelo Exmo. Remo. Bispo, que Deus haja, para occupar a cadeira do Seminario S. Joaquim e depois transferido para o de S. Jozé onde se conserva, sempre acreditado por seus bons talentos e admiravel aptidão para instruir a mocidade, sendo sobretudo de exemplares costumes, acrescentando a todos estes titulos, que o fazem benemerito a honra e a caridade com que applicou a ainda applica em soccorro de seus Irmãos pobres, e Sobrinhos, os seus ordenados, vivendo elle por essa razão na mais rigorosa parcimônia, alem de cuidados immensos sobre a educação e decencia de sua familia. Ninguem que o conhece ignora isto: eu o attesto por evidencia de verdade, do que sou testemunha ocular, e porque se me pede. Convento de Sto. Antonio do Rio de Janeiro, 26 de Maio de 1814. Fr. Antonio de Santa Ursula Rodovalho. (A firma do frade está reconhecida pelo tabelião Joaquim José de Castro)

Êsses testemunhos, que mostraram ser notável a capacidade moral, intelectual e prática do latinista, são de sacerdotes cuja idoneidade se presume de seus próprios títulos, sendo o ilustre bispo D. José Caetano o que, visitando a aldeia dos Coroados, em 1813, resolveu criar a freguesia de Valença. Vem na História Geral do Brasil de Porto Seguro com o nome de Sousa Coutinho, mas no original do atestado que transcrevi se acha Silva em vez de Sousa.

Entre os “muitos e muitos habeis discípulos” do professor, a que se refere o ínclito prelado, contava-se um sobrinho daquele, Joaquim Cândido Soares de Meirelles, o fundador da Academia de Medicina, como se vê às pp. 244, 551 e 555 dos Anais do Segundo Congresso de História Nacional, vol. III, na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

Escreve Olympio da Fonseca nesses Anais biografando Joaquim Cândido: “Feitos com proveito os estudos menores no mesmo lugar onde nascera, parte o mesmo, ainda em tenros anos, para o Rio de Janeiro, afim de cursar humanidades no Seminário de São José, sob a inspecção de seu tio, o notável latinista padre João Baptista Soares de Meirelles.”

Ainda não era padre nessa época, só recebeu ordens maiores depois de 1828, tendo enviuvado algum tempo antes. O mesmo engano se vê no que escreve Luis Felippe Vieira Souto:

“Ao atingir a idade em que começar deveria os estudos secundários, foi mandado por seus pais para a Côrte, deles se encarregando o padre João Baptista Soares de Meirelles, seu tio e grande latinista. Matriculou-se no Seminário S. José e fez sob as vistas imediatas de seu tio, curso de humanidades distinto, demonstrando grande aproveitamento.”

Não me consta que o insigne professor de latim tivesse também estudado o grego, língua que nos seminários parece não ter ido além do Kyrie, elêison, como o hebraico se limitava ao Eli, Eli, lama sabactane. Edmundo Lins, provecto latinista, que tinha ordens menores, também não estudara o grego, conhecendo só as declinações que os escritores latinos tomaram a essa língua, esmaltando com helenismos a morfologia vernácula.

Vagando em 1822 a cadeira de latim pela jubilação do professor Manoel Marques, foi nela efetivado João Baptista Soares de Meirelles, pelo alvará de 4 de Maio dêsse ano assinado por D. Pedro, ainda príncipe regente.

Sabemos pelo livro de seu bisneto que foi professor de muitos da família e, caso se confirme o parentesco de sua mãe, Dona Anna Maria Caldeira, com a família Caldeira Brant, poderemos incluir no rol abaixo o Visconde de Sepetiba, Aureliano de Sousa e Oliveira, que também seria seu parente:

Professor de latim durante trinta e quatro anos, sua maior glória foi ter preparado esse colosso que foi Joaquim Cândido Soares de Meirelles, formando-lhe o espírito no seminário e em casa com paternal carinho. Depois de jubilado ainda foi mestre, pelo menos de seus filhos e creio também de seu primeiro neto, João Gomes do Val, assim como de Joaquim Ribeiro do Val, que se casou com sua primeira neta, Carlota.

O Padre Mestre mereceu dedicatória na Tese de seu sobrinho Joaquim Cândido:

Na sua Dissertation sus les plaies d´arme à feu (Paris, 1827), que Joaquim Cândido Soares de Meirelles, o fundador de nossa Academia de Medicina, defendeu, como tese para o doutorado, na Faculdade de Medicina de Paris, lê-se a dedicatória que fez ao tio João Baptista nos seguintes têrmos:

A mon meilleuer ami, M. João Baptista Soares de Meirelles.
Mon cher et estimable oncle.

L´essai que je veus présente est un hommage dû aux soins que vou avez pris de mon instruction. Lorsqu´on a bien senti les services rendus, la reconnaissance nous suit partout; et quel que soit le bonheur dont on jouit, rien ne doit alos faire oublier ses bienfaiteurs. L´hommage que je vous offre ici publiquement vous etait dû, puisque tout ce que je suis est votre ouvrage.

Je suis avec une éternelle reconnaissance, mon cher oncle et ami, votre neveu et très – obéissant serviteur.(1)

J.C. Soares de Meirelles

Não só Joaquim Cândido; o Brasil também deve ser grato ao Padre Mestre.
(1) Dessa dissertação disse um dos examinadores, no ato, ao doutorando brasileiro, que a sua tese era um livro de consulta. Dela não existe exemplar algum na biblioteca da Academia de Medicina. Na Biblioteca Nacional há o francês, mas mutilado. Pelos papéis concernentes a Joaquim Cândido no arquivo do Ministério da Guerra, verifiquei ter sido traduzida para o português e distribuída às nossas tropas no sul.

Em 1802 recebeu sesmaria concedida pelo Vice-Rei Dom Fernando José de Portugal, confirmada em 1804, em Lisboa, pelo Regente, confirmada em 1804.

São João Batista
Em 1802 João Baptista Soares de Meirelles, já residente no Rio de Janeiro, requereu a D. Fernando José de Portugal, capitão general de mar e terra e vice-rei do Estado do Brasil, uma sesmaria de meia légua em quadra nas terras devolutas existentes "no sertão da nova aldeia dos índios Coroados", a começar pelo nascente nos limites da data obtida por Joaquim Rodrigues da Cruz, que não sei que parentesco teria com o excelente José Rodrigues da Cruz, fundador de Valença. Observando-se o processo legal, o vice-rei mandou que informasse a câmara da cidade e esta foi favorável à concessão, tendo ouvido o célebra capitão de ordenanças, depois padre, Inácio de Sousa Werneck, de Pati do Alferes, que declarou "acharçe esta terra inculta e devoluta, nos termos de se poder conceder por sesmaria." Mandou então o vice-rei que o conselheiro chanceler informasse, ouvido o desembargador procurador da Corôa, que não se opoz, contanto que o requerente justificasse primeiro que tinha escravos para a cultura da terra, que não possuía outra e jurasse pedi-la para si e não para transferi-la a outrem. Preenchidas essas condições, como se vê pelo instrumento de justificação junto mais tarde à petição do requerente impetrando a provisão para se proceder à medição e demarcação da sesmaria, passou-se a competente carta, cuja cópia fotostática, assim como a do dito instrumento, devo à gentileza de Vilhena de Moraes, tão benevolentemente interessado no bom êxito de minhas pesquizas.

A carta de sesmaria assinada por D. Fernando tem a data do Rio de Janeiro, 10 de Dezembro de 1802. Só foi confirmada por outra do príncipe regente D. João aos 22 de Março de 1804, datada de Lisboa. A concessão, como constava da carta, era feita com as seguintes cláusulas, sob pena de perder-se a data no caso de não serem observadas: O concessionário não tomaria posse da sesmaria sem prévia medição e demarcação judicial; era obrigado a conservar, para construção naval, as tapinhoans e perobas, e a plantar essas árvores onde o lugar fosse próprio para êsse plantio; devia fazer os caminhos de suas testadas com as pontes e estivas que fossem necessárias. Não se compreendiam na concessão as minas e veeiros de qualquer metal que se descobrissem, nem os "paus reais". A pessoa eclesiástica, ou religião, que sucedesse na sesmaria ficaria sujeita ao pagamento dos dízimos e, se o govêrno real resolvesse criar alguma vila na área concedida, nenhuma pensão deveria por isso ao sesmeiro. "Descobrindo-se nela rio caudaloso que necessite de barca para se atravessar, ficará reservada de uma das margens dêle meia légua de terras em quadra para comodida pública." Reserva que poderia numa sesmaria de meia légua reduzir a concessão a zero, quando se fizesse de sua banda. Só em 1812 requereu o professor a medição e demarcação de sua sesmaria, sendo despachado o requerimento a 30 de Julho dêsse ano, mandando-se passar a competente provisão dirigida ao juiz das sesmarias, já criado pelo alvará de 25 de Janeiro de 1809, ou na sua falta às justificações ordinárias.

Também o licenciado Manoel Soares de Meirelles, clínico em Santa Luzia de Sabará, pai do grande Joaquim Cândido, requereu uma sesmaria em Cantagalo, constituindo o professor, seu irmão, procurador bastante no Rio de Janeiro, por um instrumento passado no tabelião Sebastião a Silva, na real vila de N.S. da Conceição de Sabará, aos 3 dias do mês de Outubro de 1804. Consta esta sesmaria do volume XXXVI das Publicações do Arquivo Nacional, p. 268.

A confirmação se deu em 8 de Novembro de 1804, com assinatura de Dom Fernando José de Portugal.

Dom João por Graça de Deos Principe Regente de Portugal, e dos Algarves d´aquem e d´alem Mar, em Africa, de Guiné e da Conquista e Navegação e Commercio da Ethiopia, Arabia, Persia, e da Índia &. Faço saber aos que esta Minha Carta de Confirmação de Sesmaria virem, Que por parte de João Baptista Soares de Meireles Me foi apresentada outra mandada passar por Dom João Fernando Jozé de Portugal, Vice Rei, e Capitão General de Mar e Terra do Estado do Brasil, do theor seguinte: Dom Fernando Jozé de Portugal do Conselho de Sua Alteza Real, Vice Rei e Capitão General de Mar e Terra do Estado do Brasil, Faço saber aos que esta Minha Carta de Sesmaria virem Que attendendo a Representar me João Baptista Soares de Meireles que no Sertão da Nova Aldea de Indios Coroados se achavão terras devolutar nos fundos da datta de Joaquim Rodrigues da Cruz, e porque não tenha ainda obtido terrass algumas Me pedia lhe fizesse mercê conceder de Sesmaria meia legoa de terras partindo com o dito Joaquim Rodrigues da Cruz pelo Nascente e pelo Poente com o Sertão devoluto, e sendo visto o Requerimento e a Informação que deu a Camara desta Cidade, a quem se não offereceu duvida, nem a terem o Desembargador da Corôa, e o Conselheiro Chaceler, Hey por bem dar de Sesmaria em Nome de S.A.R. em virtude da Real Ordem de quinze de Juho de mil setecentos e onze ao dito João Baptista Soares de Meireles meia legoa de terras em quadra na parte acima declarada, com as confrontações expressadas, sem prejuízo de terceiro, ou do direito que alguma pessoa tenha a ellas, com declaração, que as cultivará, e mandará Confirmar esta minha Carta por sua Alteza dentro de dois annos, e não o fazendo se lhe denegará mais tempo, e antes de tomar posse dellas as fará medir e demarcar judicialmente sendo para este effeito notifficadas as pessoas com quem confrontar, e será obrigado a conservar os Tapinhoaens, e Parobas que nesta datta se acharem deixando de as cortar para outro algum uso que não seja o da construção das Naos do mesmo Senhor e a cuidar na plantação destas arvores naquelles em que já as houvera ou forem mais proprios para a producção das mesmas, como tão bem o fazer os Caminhos de sua testada com pontes e estivas onde necessario for, e descobrindo-se nella Rio caudalloso que necessite de Barca para se atravessar ficará reservada de huma das margens delle meia legoa de terras em quadra para a comodidade publica, e nesta data não poderá succeder em tempo algum pessoa Ecclesiasttica, ou Religião, e succedendo será com o encargo de pagar Dizimos, e outro qualquer que Sua Alteza lhe impuzer de novo, e não o fazendo se poderá dar a quem a denunciar, e outro sim, sendo o dito Senhor Servido mandar fundar no Destricto della alguma Villa o poderá fazer ficando livre e sem encargo algum, ou penção para o Sesmeiro, e não comprenhederá esta data Vieiros, ou Minas, de qualquer genero de metal que nella se descobrir, reservando igualmente aos Paos Reaes, e faltando a qualquer das ditas clausulas por serem conforme as Ordens de Sua Alteza e as que dispoem a Ley e Foral das Sesmarias ficará privado desta. Pelo que Mando ao Ministro, ou Official de Justiça a que o conhecimento desta pertencer dê posse ao dito João Baptista Soares de Meireles das referidas terras na forma acima declarada. E por firmeza de tudo lhe mandei passar a presente por mim assinada e Sellada com o Sello de minhas Armas, que se cumprirá como nella se contem, e se registrará nesta Secretaria de Estado, e mais partes a que tocar, e se passou por duas vias. Dada nesta Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. João Baptista de Alvarenga Pimentel. Official Maior da Secretaria a fez aos dois de Dezembro de mil oito centos e dois. O Doutor Manoel de Jesus Valdetaro Secretario de Estado a fez escrever. Dom Fernando José de Portugal. Pedindo Me o dito João Baptista Soares de Meireles que por quanto o sobredito Vice Rey, e Capitão General de Mar e Terra do Estado do Brasil lhe dera em Meu Real Nome meia legoa de terras em quadra no Citio mencionado na referida Carta fosse servido mandar lhe passar outra de Confirmação della E sendo visto seu Requerimento em que forão ouvidos os Procuradores Regios de Minha Fazenda e Corôa: Hey por bem fazer-lhe Mercê de o Confirmar como por esta o Confirmo a dita meia legoa de terras em quadra no Citio declarado na dita Carta que em Meu Real Nome lhe deu D. Fernando José de Portugal Vice Rey e Capitão General de Mar e Terra do Estado do Brasil, na forma da Carta nesta incerta, com todas as clausulas e condiçoens na mesma expressadas, e com as mais que dispoem a Lei. Pelo que Mando ao Meu Vice Rey e Capitão General de Mar e Terra do Estado do Brasil, Provedor da Fazenda Real, mais Ministros, e pessôas a que tocar cumprão e guardem esta minha Carta de Confirmação de Sesmaria e fação cumprir, e guardar inteiramente como nela se contem sem duvida alguma. Pagou de novos direitos quatro centos reis que se carregarão ao Thesoureiro dellas a folhas duzentas e trez verço do Livro vinte e nove de sua Quita como constou do conhecimento informa Registado a folhas duzentas e tres verço do Livro cessenta e oito do Registo Geral, Dada na Cidade de Lisboa a vinte e dois de Março, Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesuz Cristo de mil oito centos e quatro. O Principe com Guarda – Por Despaho do Conselho Ultramarino de vinte e nove de Outubro de mil oitocentos e tres. Barão de Mossamedes, Barão de Manique do Intendente. O Secretário Francisco de Borja Garção Stokler a fez escrever, Registada a fl. 240 do Lvro. de Sesmarias do Conselho Ultramarino, Lisboa nove de Julho de mil oitocentos e quatro, Francisco de Borja Garção Stokler. Nesta Secretaria do Registo Geral das Mercês fica Registada esta Carta. Lisboa, treze de Julho de mil oito centos e quatorze pagou dois mil reis, Estevão Pinto de Moraes Sarmento e Oliveira, Diogo Inacio de Pina Manique. Pagou quatro centos reis e aos Officiais dois mil duzentos e dez reis. Lisboa quatrose de Julho de mil oitocentos e quatro. D. Miguel José da Camara Maldonado, Registada na Chancelaria Mor da Corte e Reino do Lo. De Officios e Mercês a fl. 166. Lisboa quatorze de Julho de mil oitocentos e quatro, Thomaz Antonio Lopes da Costa – Cumpra-se como Sua Alteza Real manda, e Registe-se nas partes que tocar. Rio oito de Novembro de mil oitocentos e quatro. Dom Fernando José de Portugal.

“Cachoeira e Porongaba”, Apêndice,
Fernando Luis Vieira Ferreira

Em sua sesmaria, o Padre Mestre construiu a Fazenda São João Batista que, segundo relato de um primo, Silo Soares de Meirelles Filho, ainda existe em ruínas:

Em 1826 quando o professor João Baptista Soares de Meirelles pediu uma licença para tratamento de saúde fora da Côrte, já estava provàvelmente de posse de sua sesmaria. Em 1828, com certeza, tendo pedido de Valença a prorrogação da licença. Foi nesse tempo, senão pouco antes, que, já medida e demarcada a sesmaria, fundou nela a sua fazenda, a que deu o nome, do santo seu homônimo, São João Batista (hoje Santa Maria). Nela viveu muitos anos ainda, mesmo depois de casar a filha, Thereza de Jesus Maria, com Matheus Gomes do Val, administrador da fazenda de Casal, de José Pereira de Almeida, filho do barão de Ubá, sôbre a margem esquerda do Paraíba.

Tinha São João Batista uma capela, em cuja sacristia o Padre Mestre conservava piedosamente o crâneo da esposa predefunta, sob um lenço preto.

Para sua fazenda levou da Côrte os filhos ainda menores, que fizeram a viagem, pela estrada do Comércio, acomodados no mesmo cargueiro, e lá cresceram. Lembrava-se minha avó Thereza, e contou-me, de que o irmão José, menino, brincara com os cabritinhos no terreiro, como os quais indo de gatinhas procura a trocar marradas.

Filha, genro e netos do Padre Mestre freqüentaram São João Batista, que não ficava longe de Casal, e contam que um neto, José, ainda menino, para meter mêdo às irmãs, acendia, ou acendeu uma vez, um bico de vela sob o crâneo da Avó, que o Avô conservava na sacristia. As coisas mais respeitáveis estão sujeitas a irreverências que nem sempre tem uma desculpa na infância ou mesmo na infantilidade. Não havia nessa brincadeira do Cazuza, que não conheci, nenhuma intenção filosófica; mas a luz do espírito, lampejando em nossos crâneos, dura pouco mais do que as a que se acende num bico de vela. Ambas só aturam, ou se perpetuam, quando, mudando de suporte, passam de um bico para outro. Lucrécio em seu poema, fala-nos do facho que as gerações, que passam correndo, vão entregando umas às outras. Essa transmissão do archote permite à espiritualidade sobreviver em outrem, levando o pensamento mais longe do que o benefício individual de viver para outrem, como recomenda cristianíssimo positivismo.

Depois da morte do Padre Mestre, a Fazenda São João Batista foi desmembrada, dando origem a Fazenda Cachoeira, onde nasceu meu bisavô, Fernando Luis Vieira Ferreira:

Cachoeira
O Padre Mestre deixou três herdeiros: a filha Thereza, casada com Matheus Gomes do Val, e dois filhos, José Estanislau, formado em direito, e João Baptista, formado em Medicina, meus tios avós maternos. Na partilha de sua herança tocou ao herdeiro João Baptista uma parte da fazenda do pai com a casa sede, a que ficou reduzida, continuando com o nome de São João Baptista, e a minha avó Thereza o resto das terras, por lhe ter vendido a sua parte meu tio José Meirelles. A parte que se desmembrou de São João Batista com as terras que meu avô Matheus comprou de confinantes formou a fazenda da Cachoeira. Ao seu estabelecimento agrícola deu meu Avô o nome de Cachoeira da Alegria, que o tempo simplificou em Cachoeira somente muito antes de deixar de ser alegre, apocopando-lhe um epíteto que a natureza humana faz pouco duradouro, ainda que na técnica literária o escolhido não se classificasse entre os epítetos de circunstância.

Fez parte do Conselho da Sociedade Defensora da Liberdade e Independência Nacional, em Valença.

É de São João Batista que o Padre Mestre ia a cavalo a Valença distante umas cinco léguas, para assistir às sessões da Sociedade Defensora da Liberdade e Independência Nacional, de cujo conselho fazia parte. Viajava por picadas até encontrar em Tabôas, ou nas imediações, a estrada do Comércio, ou ia ter a esta estrada no ponto em que ela corta o Paraíba, defronte da estação do Comércio? Iria pelo varadouro que deu a Luiz do Nascimento, dono de um sítio perto da Cachoeira e sogro de meu tio José Gomes do Val (Juca), a alcunha de Luiz da Picada? Não sei. Só posso assegurar que não faltavam picadas nos morros valencianos, quando o Padre Mestre, já domiciliado em sua sesmaria, punha no verdor vegetal de um cenário todo esperanças o negrume de sua batina, como perpétuo luto da viuvez no sacerdócio. Afirmara "Eu sempre serei só teu", quando pediu em verso a mão de Joanna Leonísia.

(...) Figura nessa patriótica sociedade como sócio desde a instalação a 17 de Novembro de 1831, sendo no dia seguinte eleito conselheiro e redator dos estatutos. Na sessão de 17 de Agôsto de 1832 foi eleito membro da comissão de instrução pública e na de 1º de Outubro o presidente “convidou o conselho para uma reunião extraordinária no dia 2 do próximo mês de Dezembro afim de solenizar o natalício de Sua Magestade o Senhor Dom Pedro II, nomeando o Sr. conselheiro Soares de Meirelles para recitar nesse dia um discurso análogo ao objeto.” “Análogo” está aqui por oportuno, apropriado, ou relativo. Participava, como se vê, da vida social valenciana, ainda que não residisse na vila. A câmara municipal de Valença, na sessão de 5 de Março de 1833, nomeou o padre João Baptista Soares de Meirelles juiz de órfãos, prestando êle a uma hora da tarde o juramento do cargo, e essa nomeação foi confirmada, tornando-se efetiva, pelo ministro da Justiça, em portaria que foi lida na sessão de 13 de Maio do mesmo ano
(Livros das atas)

A Sociedade Defensora, de Valença, fundou, nesse ano, para sua propaganda, o jornal “O Valenciano”, impresso na Tipografia Nacionãl, no Rio. Seu formato era pequeno, medindo 0,32 X 0,22, isto é, do tamanho de uma fô¬lha de papel almaço. Era o primeiro jornal que aparecia na Vila.

Foram seus redatores os revmos. padres João Batista Soares de Meireles, e, depois, João Joaquim Ferreira de Aguiar. Era seu gerente o comendador Silveira Vargas, e tinha como seu representante, na capital do Império, o grande e sempre lembrado Evaristo da Veiga, o ardoroso jornalista da Regência.

Em 10 de junho de 1829, Sua Majestade, o Imperador, atendeu a solicitação do Professor João Baptista e lhe concedeu licença para tomar ordens sacras.

Tendo falecido sua mulher, João Baptista resolveu tomar ordens sacras, uns quarenta anos depois das menores tomadas em Mariana. Cumpria assim a promessa de monogamia que fizera em verso. Encontrei na Secretaria da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro o processo para a constituição de seu patrimônio eclesiástico. Em têrmo datado de 23 de Maio de 1829, o requerimento constituiu como patrimônio o ordenado de quinhentos mil réis anuais, que percebia como professor jubilado. Há nesse processo um aviso, de 10 de Junho de 1829, em que o ministro da Justiça Lúcio Soares Teixeira de Gouvêa comunica ao Bispo Capelão Mór que Sua Majestade o Imperador, atendendo ao que lhe representou João Baptista Soares de Meirelles, havia por bem conceder-lhe licença para que pudesse tomar ordens sacras. (Maço 63, no. 18).

Em que ano recebeu êle essas ordens é o que não consegui averiguar, porque no livro de atas da Sociedade da Liberdade e Independência Nacional da vila de Valença vem o seu nome sem a qualificação de padre até a penúltima, que assina esse título a 6 de Setembro de 1833. Só na seguinte, no mesmo mês, é que êle se assina Padre João Baptista Soares de Meirelles.

Em 5 de março de 1833 foi nomeado Juiz dos Órfãos, em Valença.

Já estavam em vigor o Código do Processo Criminal (lei de 29 de Novembro de 1832), cujo art. 33 permitia nomearem-se juízes municipais, não só pessoas formadas em direito, mas quaisquer outras “bem conceituadas e instruídas”. E as Instruções para a execução dêsse Código, mandadas observar pelo decreto de 13 de Dezembro de 1823, cujo art. 10 estendia aos juízes de órfãos os mesmos requisitos, sendo, trineal, a nomeação de uns e outros, como nas Ordenações do Reino. Tinha já sessenta e sete anos, ao ser nomeado juiz de órfãos.

Bernardo Vieira Machado - 1827; Francisco Joaquim Arêas - 1828: Manoel Vieira Machado - 1829; Antônio Luiz Arêas - 1880; Manoel Caetano de Avelar - 1831; padre João Batista Soares de Meireles -1833; João Antônio da Silva Péres - 1836; Teófilo Ribeiro de Rezende - 1839 e Anastácio Leite Ribeiro - 1841.

Encontramos no site “Valença de Ontem e Hoje”, capitulo “Valença Aldeia”, Parte 1, os seguintes documentos:

(405) “Seus bens, diz o juiz de orphãos do termo de Valença João Baptista Soares de Meirelles no seu Officio de 24 de Fevereiro de 1835 ao presidente da provincia José Joaquim Rodrigues Torres, seus bens são meramente uma legua de terra em quadro da chamada Conservatoria, em o rio Bonito, estabelecida em tempo dos corregedores das comarcas há mais de dez ou doze annos, sem agricultura ou aproveitamento algum dos mesmos indio, mas toda occupada e povoada por agronomos, em tanta monta que não resta nem cem braças desoccupadas de tres mil que compreende o seu todo.

(406) Lei n. 136. Ao curato de Sancto Antonio do Rio Bonito ficou, pela lei n 56 de 9 de Dezembro de 1836, annexada a parte dos freguezes que então pertenciam ao das Dôres, e que tinham o seu domicilio estabelecido no districto e municipio de Valença, foi, pela lei já citada, ele¬vado á cathegoría de freguezia. A lei n. 484 de 26 de Maio de 1849, creou no seu 2o districto um curato sob a invocação de Nossa Senhora da Piedade das lpiabas, e no 3o de Sancta lzabel do Rio Preto, o que prova o augmento que tem tido esta nascente povoação.

(407) Tem dentro em si a povoação onde está edificada a capella curada e com a residencia de um cura, e já com tantos edifícios que se torna de dia em dia um arraial populoso, com tal progresso que ainda em 1821 era sertão inculto sem uma só casa, em matto virgem, quando agora já tem as construcções que venho de dizer.” J.B.S. de Meirelles, no offício já citado.

(408) “Ha no Rio Bonito alguns aldeados, cujo numero, sexo e idade ignoro.” Officio do mesmo juiz de orphâos J.B.S. de Meirelles, datado de 20 de Março de 1835,

Adoentado, em março de 1826 pediu licença ao Imperador, indo para Valença.

Em 1826 quando o professor João Baptista Soares de Meirelles pediu uma licença para tratamento de saúde fora da Côrte, já estava provàvelmente de posse de sua sesmaria.
A prorrogação era pedida por motivo de moléstia que impedira ao professor acompanhar o processo contra seus escravos. Parece que em Março de 1826 já freqüentava, ou começou a freqüentar, Valença, indo provavelmente à sesmaria que lhe fora, como veremos, concedida em 1804; porque foi por procurador que requereu uma licença para tratamento de saúde.

Sofria já a tempos de uma erisipela no braço, acompanhada de uma tosse que o fazia temer a tísica, necessitando por isso de uma mudança de clima. Não tem data a sua petição ao Imperador, pois era costume então omitir-se, por bastar a do despacho; mas o atestado médico é datado do Rio de Janeiro, a 6 de Março de 1826.

Pediu prorrogação dessa licença, ou talvez de outra, em 1828; mas já de Valença, tendo o seu procurador, João Antonio da Silva Perez, juntado à petição um atestado médico datado dessa vila, a 2 de Fevereiro, assinado por Antonio José da Silva, “aprovado em medicina por Sua Magestade Imperial” (sic). Atesta uma “prepneumonia” no professor, que se abeirava então dos sessenta e dois anos.

Em 28 de setembro de 1828, Pedro I sancionou a resolução da Assembléia Geral Legislativa que autorizava o Governo a aposentar o Professor João Baptista Soares de Meirelles, proprietário de uma das Cátedras de Gramática Latina da Corte. Estava com 68 anos, 45 de magistério, função que exerceu com dignidade e notável competência.

Em 25 de Setembro de 1828, Pedro I sancionou a resolução da Assembléia Geral Legislativa que autorizava o Governo a aposentar com o ordenado por inteiro o professor João Baptista Soares de Meirelles, proprietário de uma das cadeiras de gramática latina da Côrte. Foi jubilado com o ordenado de quinhentos mil réis anuais pelo decreto de 11 de Abril de 1829; mas só em 1833, já na Regência Permanente, é que foi expedida, a 27 de Maio, a carta de jubilação, assinada por Francisco de Lima e Silva, José da Costa Carvalho (depois marquês de Monte Alegre) e Nicolau Pereira de Campos Vergueiro. Tinha então perto de sessenta e cinco anos de idade e uns quarenta e cinco de magistério, função que exerceu com tanta dignidade e tão notável competência.

Na Fundação da Academia Valenciana de Letras foi homenageado como Fundador sendo representado “in memoriam” por seu bisneto:

Em 1949, a Rádio Clube de Valença fazia, semanalmente, um programa intitulado “mesa-redonda”, onde se debatiam todos os problemas de interesse da cidade de Marquês de Valença. Por sugestão apresentada pelo ouvinte sr. Arnaldo Pinheiro Bittencourt em carta dirigida ao sr. Geraldo Jannuzzí, que a leu naquele programa, nasceu a idéia da fundação da Academia Valenciana de Letras. A idéia tornou-se vitoriosa com a fundação, em 14 de novembro de 1949, da Academia Valenciana de Letras, cujo presidente de honra é D. Rodolfo Pena, diocesano e seu patrono - o Comendador José Siqueira Silva da Fonseca. Foram seus fundadores: Drs. Arnaldo Pinheiro Bittencourt, Durval Passos de Meio, Osvaldo da Cunha Fonseca, Floriano Sobral Leite Pinto, João Fausto Magalhães, Antô¬nio Siqueira, Carlos Luiz Jannuzzi, Franklin Silva Araújo, Osmar Carvalho Silva, Ângelo Bittencourt, Vitor Bezerra e Manoel Souza Gomes, padres Natanael Alcântara e Francisco de Luna, Geraldo Jan¬nuzzi, Nabor Fernandes, João José Cosati e prof. Izabel Matos Costa. Atualmente, são os seguintes os acadêmicos na classe das Letras: João Fausto de Magalhães (patrono Pe. Júlio Maria); Franklin Silva Araújo (p. Alcindo Guanabara); Antônio Augusto de Siqueira (p. Alberto de Oliveira); Floriano Sobral Leite Pinto (p. Rui Barbosa); Vítor Bezerra (p. Alexandre de Gusmão); Nabor Fernandes (p. Casemiro de Abreu); Durval Passos de Melo (p. Fagundes Varela); Pe. Francisco de Luna (p. D. Pedro Maria de Lacerda); Pe. Natanael de Veras Alcântara (p. Dom Frei Vital Maria); Pe. José Albu¬querque (p. Domingos Albuquerque); Oscar dc Carvalho Silva (p. José do Patrocinio); Alberto Furtado Portugal (p. Euclides da Cunha); Luíz Carlos da Costa Carvalho (p. Olavo Bilac); Mário Lopes Domingues (p. Alberto Tôrres); Arnaldo Nunes (p. Hermano Bruner); D. André Arcoverde de Albu¬querque Cavalcanti (p. Dom Silvério Gomes Pimenta); Desembargador Vieira Ferreira (p. padre João Batista Soares de Meireles) e Floriano Peixoto Tôrres Homem (p. Francisco de Saies Tõrres Homem, Visconde de Inhomirim).

Em 1836 criou-se e foi instalada a Venerável Irmandade de N. S. da Glória, em Valença. E’ do teor seguinte a ata de sua fundação e instalação:

“Acta da creação e installação da Irmandade de N. S. da Gloria da Igreja Parochial de Valença. Aos vinte dias do mez de Abril do anno de Nosso Senhor Jesus Christo, de mil oitocentos e trinta e seis, reunidos na Igreja Parochial de Valença, os devotos abaixo assignados, sob a presidencia do Revrno. Parocho da Fre¬guezia Joaquim Claudio Vianna das Chagas, deliberarão crear e installar a Irmandade de Nossa Senhora da Glória, Padroeira desta Igreja Parochial e sendo lido o compromisso da mesma Irmandade foi ele approvado e adaptado; deliberando-se que sendo posto em limpo e organizado pela meza subisse à aprovação do Governo Imperial e do Ordinario. Foram eleitos para comporem a meza que deve servir no corrente anno de mil oitocentos e trinta e seis: Juiz - Exmo. Visconde de Baependy; Secretario - Major José lldefonso de Souza Ramos; Thesoureiro - José da Silveira Vargas; Procurador - Major João Antonio da Silva Péres; Consultores: D. Manoel de Assis Mascarenhas, Revmo. Vi¬gario Joaquim Claudio Vianna das Chagas, Revmo. João Baptista Soares de Meirelles, Padre João Joa¬quim Ferreira de Aguiar, Cap. João Pinheiro de Souza, Major Genuino Antonio da Silva Peres, Joaquim Pinheiro de Souza, o Sargento-mór João Francisco Leal, Cap. Bernardo Vieira Machado, José Alvares Pinto, o cirurgião Casemiro Lucio d’Azevedo Coutinho Rangel. O alferes Pedro Gomes Pereira de Moraes. Juiza: A llma. D. Brandina Eufrozina de Vasconcellos Faro. Ayas: As Exmas. Mar¬queza de Baependy, Condessa de Valença, Viscondessa de Baependy e as Ilmas donas Francisca Maria ValIe da Gama, Anna Rita de Faro, Izabel Maria da Vizitação, Claudina Felisminda da Silva, Joanna Maria da Conceição, Theodósia Candida Vieira Maia, Francisca Joaquina Ermelinda, Anna Joaquina de São José e Maria Joaquina da Silveira. Resolveu a meza que houvesse sessão no dia seguinte, para a posse; e levantou-se a sessão. E eu, Genuino Antônio da Silva Peres, secretário interino, que a escre¬vi e assignei.” Essa ata foi assinada por todos os presentes.

A importância do pioneirismo do Padre Mestre no Ensino Primário está registrada na História de Valença:

O Comendador José Silveira Vargas, primeiro presidente da Câmara Municipal, foi, incontestavelmente, o pioneiro do ensino em Valença, executando um programa oficial de primeiras letras. Na sessão de 28 de janeiro de 1829, por sua proposta, a Câmara deliberou se fizesse fervoroso apelo ao governo, fazendo-lhe ver a necessidade urgente da instalação, na Vila, de uma escola primária.

Graças aos esforços do Padre João Batista Soares de Meireles, o ensino primário particular teve, na antiga Vila, em 1831, o seu início. Não obstante, as constantes lutas em prol da instrução, somente em 7 de setembro de 1832 é que se verificou a inauguração da primeira escola primária, regida pelo professor nomeado Antônio José Osório de Pina Leitão. Nessa ocasião, a Câmara fez afixar editais, convidando os pais a mandarem seus filhos à matricula na escola.

Valença Ontem e Hoje

No Almanak Laemmert de 1848, Província, à Página 149 e em 1849, Província, à Página 81, é citado como Fazendeiro em Valença, Cavaleiro da Imperial Ordem de Cristo.

Casado, em 11 de Maio de 1815, com JOANA LEONÍSIA DE FRANÇA LIRA.

Casara-se antes com uma moça de Ouro Preto, Joanna Leonísia de França Lyra, “cuja mão pediu com um bilhete em versos que, não só desenham o caráter do autor, como pintam poeticamente, nos costumes do tempo, todo o respeito que mereciam para o sexo forte as virtudes e as graças do belo”. Escreveu, peorando a meu ver o Joana em Jonia:

Não te assustes, Jonia amável,
Lê sem mêdo o que te escrevo;
Rêdes não armo à virtude,
Nem desejo o que não devo.

Há já quase quatro lustros
Que, extinta do amor a chama,
Por nenhuma gentileza
Meu coração se inflama.

Tu, só tu Jonia fizeste
Reviver o fogo extinto;
Já suspiro, já me inquieto,
O prazer do amor já sinto.

Se este amor te não desgosta
Com prazer o nutrirei;
Se ele, porém, não te agrada,
Prudente, o sufocarei.

Minha isenção costumada
Tratarei de renovar,
Sem que os dotes com que encantas
Deixe mais de respeitar.

Responde, pois, se tu queres
Eu sempre serei só teu;
Se não queres, eu te afirmo
Que serei somente meu.

Ela lhe quis e lhe deu Thereza de Jesus Maria, José Estanislau e João Baptista, que deixou menores, falecendo entre 1822 e 1829. Não consegui descobrir o seu inventário nos arquivos de cartórios nem no Arquivo Público Nacional. Em 1822 ainda fez com o marido uma petição ao Desembargo do Paço, datada de 29 de Julho, para conseguir a prorrogação de uma carta de seguro no processo crime contra dois escravos do casal que haviam ofendido fisicamente os do queixoso. Era o seguro, como a fiança criminal, concedido aos réus para se livrarem soltos, mas só aos que ainda não tivessem sido presos.

Certidão de Casamento
"Aos onze dias do mês de maio de mil oitocentos e quinze de Nosso Senhor Jesus Cristo, nessa Igreja do Santíssimo Sacramento, casou-se João Baptista Soares de Meirelles, filho legitimo de Luís Soares de Meirelles e D. Anna Maria Caldeira, natural e batizado em Curral del Rei, e D. Joana Leonisia de França Lira, filha legitima de Francisco de Pinho e Silva e D. Bernarda Leovisia França Lira, naturais e batizados na Freguesia de Ouro Preto - Mariana. Foram testemunhas Antônio da Anunciação Avelino e Manoel José de Souza França". O Registro de Casamento consta do Livro de Casamentos da Igreja do S.S.Sacramento, no Livro 1812-1815 - folha 114 - Livro 3.

A transcrição não é ipsis literi do original, foram transcritos somente os dados de maior interesse para a confecção da genealogia de João Baptista Soares de Meirelles e sua esposa.

Pesquisa de Sandra Cândido

Antônio da Anunciação Avelino foi o 14º Reitor do Seminário São José, de 1814 a 1818.
Manoel José da Souza França que, talvez, tenha parentesco com a Família França Lira, era catarinense, foi Deputado Constituinte e Secretário das Sessões Preparatórias e da instalação da Assembléia Constituinte, em 1823. Foi Conselheiro (Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 190, de 1946). Ministro dos Negócios da Justiça e do Império, nomeado em 20 de Março de 1831 por Dom Pedro II. Presidente da Província do Rio de Janeiro, em 1840. No Almanak de 1825, Página 224, citado como Conselheiro da Fazenda recebendo o salário de 400$000.

Natural de Vila Rica, falecida depois de Dezembro de 1824, data do nascimento do seu 3º filho, e antes de 1829, no Rio de Janeiro.

Filha de Francisco de Pinho e Silva e Dona Bernarda Leonísia de França Lira. Neta materna de Antonio Machado da Costa e Maria Pereira Maciel.

O seu neto e biógrafo Fernando Luis Ferreira não conseguiu descobrir o seu inventário nos arquivos de cartórios nem no Arquivo Público Nacional.

Em 1822 ainda fez com o marido uma petição ao Desembargo do Paço, datada de 29 de Julho, para conseguir a prorrogação de uma carta de seguro no processo crime contra dois escravos do casal que haviam ofendido fisicamente os filhos do queixoso. Era o seguro, como a fiança criminal, concedido aos réus para se livrarem soltos, mas só aos que ainda não tivessem sido presos. (“Cachoeira e Porongaba”, Página 150 - Fernando Luis Vieira Ferreira)

Foram Pais de:

3.1 Theresa de Jesus Maria Soares de Meirelles, que segue.

3.2 José Estanislau Soares de Meirelles. Advogado e Juiz de Direito. Nascido em 7 de Maio de 1821. Em 1857, era Advogado em Paraíba do Sul, segundo o Almanak de 1857, à Página 137. Em 1869, era Advogado em Nova Friburgo, segundo o Almanak de 1869, Província, à Página 456. Nomeado Juiz de Direito em Mar de Espanha, em 1885, segundo o Almanak de 1885, Província, à Página 456. Eleitor na Freguesia de Santa Rita, segundo o Almanak de 1881, à Página 200.

Carta Precatória
Dizem Gama D Bessa em liquidação, que tendo requerido uma carta precatória conta José Estanislau Soares de Meirelles afim de fallar nesta Côrte aos termos de uma acção, foi, a mesma de derigida ao Juizo Commercial da Comarca de Campos Villa de S. Fidelles onde já não é residente o Suppdo, e como seja elle actualmente rezidente no termo de Leopoldina Província de Minas, por isso pretendem os Supp tes que V Excª, seja servido mandar que se eleveça nova carta dirigida ao Juízo refferido afim de até se mandar cumprir a citação requerida para afim e emendado na petição inicial que se acha em Juízo e assim. Pa V.Excª deferimento. E. R. M ce Por procuração José da Silva Santos

Casado, em 2 de Fevereiro de 1851, com Dona Felisbella Perpétua Ribeiro do Val, falecida em 5 de Junho de 1862, filha de João Ribeiro do Val e de Dona Felicidade Perpétua Pires (V. Meus 6º Avós - Pedro Gomes Ribeiro e Catarina do Val). Com Geração.

Convite para a Missa de 7º Dia
Dr. José Estanislau Soares de Meirelles e Manoel da Silva Maciel convidam para a Missa de 7º Dia de sua esposa e afilhada Felisbella Perpétua do Val Meirelles, em 12 de Junho de 1862, na Matriz desta villa.

Pesquisa de Guilherme Serra Alves Pereira

3.3 João Baptista Boaventura Soares de Meirelles. Médico Cirurgião e Fazendeiro. Nascido em 17 de Dezembro de 1824.

Segundo o Almanak de 1857, à Página 130, era Médico Cirurgião em Valença. No Almanak de 1865, à Página 149, é citado como Médico em sua Fazenda em Valença, Freguesia de Santa Thereza.

O Dr. João Baptista Soares de Meirelles estabeleceu o seu gabinete de consultas médico-cirúrgicas na Vila de Valença, perto da Igreja da matriz. Ele pode ser procurado a qualquer hora do dia ou da noite. Se for um atendimento noturno, porém, e se estiver chovendo, o pagamento será dobrado em relação ao que seria cobrado em condições normais. Os chamados a este médico e cirurgião deverão ser todos feitos por escrito.

Jornal do Commercio - 5 de Maio de 1856

Casado, em 24 de Junho de 1849, com Dona Theodora Francisca de Castro Leal, nascida em 17 de Dezembro de 18..., filha de João Francisco Leal, Pianista e Compositor. Com Geração.

Família de Castro Leal: Theodora Francisca, por sua vez, não possuía bens, mas era de família excelente e das mais antigas do Rio de Janeiro, sendo descendente do povoador Antônio Sampaio. E dos seus parentes mais próximos, conhecemos: Pequena Biografia: João Francisco Leal, seu pai, pianista e compositor diletante, autor de um lundum que começava com as palavras “Esta noite, ó céus, que dita...” (1830) e do hino “Deus salve a Pedro!” (1835); Pequena Biografia: Antonio Francisco de Castro Leal, irmão, autor da letra do lundu Estamos no século das luzes (1857); Pequena Biografia: José Francisco de Castro Leal, irmão, casado, ou ainda por se casar, com “tia Zinha” ou “tiazinha”; os filhos deste, Francisco, o “Chico K. Andô” (pseudônimo usado quando, mais tarde, se tornaria músico popular, por sinal, sem expressão); Antônio, o “Tiní”, e Antonietta, a “Tatá”, que viria a se casar com Carlos Gusmão, tio de Joaquim da Silva Gusmão, tendo com este duas filhas: Marietta e Marina. E, finalmente, os sobrinhos: Pequena Biografia: Manoel Francisco de Castro Leal (“Maneco” Leal), compositor de pelo menos uma dezena de peças, entre as quais a polca Apuros do Lulú, dedicada ao primeiro neto de Theodora Francisca (Luiz Francisco Leal, o “Lulu”), Pequena Biografia: João Cândido de Castro Leal; a este último dedicando Ernesto Nazareth o “tango” Famoso, editado em 1917. (Luiz Antonio de Almeida - Biografia de Ernesto Nazareth)

4. THERESA DE JESUS MARIA SOARES DE MEIRELLES casada com MATHEUS GOMES DO VAL, Patriarcas da Família Gomes do Val.

Um comentário:

  1. Gostei muito.
    Sou pesquisador, nasci em Rio das Flores (ex-Santa Teresa de Valença) onde estão situadas as fazendas Cachoeira e Porangaba, no distrito de Tabôas. No cemitério de Rio das Flores existe o túmulo de Theresa de Jesus cc Matheus Gomes do Val.
    Parabéns!

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